quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A trajetória dos pés.


E estes são os pés:
Os pés que andam.
Os pés que correm.
Os pés que doem.

Os pés que nos levam pra longe
Buscar aquilo que se quer e precisa
Buscando ainda que muito longe
Aquilo que o sujeito se obstina.

Os pés que soam.
Os pés que cansam.
Os pés que chutam.
E depois repousam.

Os pés que percorrem pela cidade
No sapato do operário
O patrão e seu sapato
Que pisa no empregado
Castiga!
Um massacre ingrato!

Os pés da criança
Que pisam na grama do parque
Na areia da praia
Na lama

Os pés do trabalhador
Os pés do estudante
Procurando um amor
Os pés de quem desistiu
de ser um caminhante.
Cansou!
Não suportou mais a dor!

O pés que sustenta
O corpo de quem não mais agüenta
buscar uma vaga ao sol
A pé.
Todos os dias.

O pé um inferior membro
daquele  quem caminha
corajoso pra fugir do medo.

O pé que já está esfolado
De quem busca cansado
O lugar almejado pela andança

O pé mais elegante daquele que dança.
O pé num ritmo buscar
Pela justa esperada digna vida
E por isso, ainda tem bastante a caminhar.

Eu te olho.

Eu te olho.
Sim, eu te olho, mas com respeito.
A tua face
e o teu sorriso.

Eu te olho.
Olho sim!
Olho muito,
mas é com admiração.

Eu admiro o que eu vejo:
Tua boca.
Teu sorriso.
Tuas pernas.
Teu peito.

Sim, eu te olho
Mas com admiração
Do teu jeito inteiro
Ao teu corpo perfeito.

Se eu parar de te olhar,
ignorar a tua imagem:
Aí sim que é desrespeito!

domingo, 11 de abril de 2010

Invisível


Eu tô aqui na minha calçada
que não é minha
mas serve de casa
para quem não tem nada!

Eu sou invisível
mas tô por toda a cidade.
No banco da praça.
Na frente da igreja.

Eu sou invisível para sociedade!

Eu não sou nada!
Apenas um resto de gente.
um mendigo na calçada!
Indigesto-indigente.

O cidadão de bem
tem medo da minha figura
nojo do meu cheiro
e revolta com a minha postura!

Uns têm medo de mim
outros não sentem nada
é melhor que eu chegue ao fim
é melhor que eu morra na calçada!

Vou de porta em porta, pedindo
um dinheirinho pra tomar uma cachaça
porque comida, eles não me dão.
Já é caro pra eles, e é um luxo pro mendigo.

A cachaça esquenta a noite fria
tenho o calor de um velho cobertor
e um cachorro de companhia
já é um pouco pra suavizar essa agonia!

O cidadão de bem que passa por mim,
me olha com desprezo
às vezes ele ri,
às vezes tem medo.

Não tenho mais futuro
vou morrer na ignorância
assim é mais justo.
É mais justo pra ele
me recolher a minha insignificância!

O mesmo cidadão que diz
ficar chocado de ver tanto sofrer
em cima de um ser humano
me oferece migalha:
Uma bolachinha.
Um pão.
O que sobrou do almoço.

assim ele se sente mais cidadão...

Mas sei que pra essa sociedade
eu sou invisível
sou menos que um cachorro sarnoso
sou desprezível.

A rua é meu lar
a mesma dos cães sem dono
a calçada é testemunha do meu sono
o sol e os olhares de soslaio.

A podridão do meu corpo
que vaga pelo anoitecer
à espera de um mísero raio
que me faça desaparecer!

Eu sei o que pra eles eu significo:
eu sou um resto de gente,
uma coisa desprezível,
um mero indigente que fede à mijo.
Podre.
Bêbado delirante.
Vagabundo andante.
Posição irreversível.

Pra eles eu sou menos que um àtomo.
Apenas, INVISÍVEL.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Acalento

Da tua imagem na minha lembrança
o meu sentimento eu sustento
sonhar em te ter de novo por perto
é o meu acalento.

Um sonho.
Um objetivo
de um desejo guardado
uma herança que ficou de ti.

Não vou te telefonar,
nem mandar recado,
nem cartas eu vou mandar e
nem mensagem por internet.
Hoje não.
Não vou teclar.

Fica assim então:
eu lembro da imagem tua
vestida de sol
despida como a lua.

Lembrar de ti e sonhar,
te sentir como a brisa do vento,
é agora minha satisfação.
Meu acalento.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Definição

Se eu conhecesse uma palavra,
uma palavra certa,
eu expressaria de fato
essa vontade encoberta

nem tão encoberta assim...

Falta apenas uma palavra
pra jorrar de dentro de mim.
Pra definir o que eu sinto.

Qual será, enfim?

O que eu sinto deve nem ter
uma palavra para definir,
mas sinto com uma dor ingrata
atrás da palavra exata.

e eu sigo correndo,
buscando, amando
te olhando.
Te olhando,
amando, buscando
correndo, buscando
correndo, querendo...

eu sigo e sinto!

A palavra que eu quero
não vai definir de fato
o que eu em ti venero
no tamanho exato

mas quem sabe eu possa
encontrar a tal palavra
o verbo
reto
que defina tamanho afeto.

Pra expressar em verbo
o que eu sinto no coração,
tem que revelar
o tamanho real,
não apenas dar uma noção

Eu acho que o que eu sinto
vai além dos dicionários.
Além da razão.
Deve nem ter uma palavra
para a real definição.